quarta-feira, 9 de setembro de 2009

A compra improvável do que é meu

Quando o computador deu o berro apercebi-me de um e-mail de uma editora a solicitar que entra-se em contacto com ela: uma editora literária. Pelos vistos alguém da agência da dita cuja aqui no Norte deu uma vista de olhos ao meu blogue e entrou nessa. Estavam interessados no meu material. Infelizmente logo a seguir perdi essas mensagens e fiquei na dúvida. Então resolvi tirar teimas e fui à net verificar a dita editora - lá estava ela. Dei uma vista de olhos por alto ao catálogo e resolvi envolver-me.
Enviei um e-mail e recebi a resposta de que ninguém na editora tinha entrado em contacto comigo, mas se tivesse algo a declarar podia fazê-lo. Era óbvio que o mirone não tinha sido da sede, mas da sucursal no Porto - não interessa.
Resolvi então enviar o meu texto, e um mês e tal depois (meteram-se entretanto as férias pelo meio) recebi a resposta: o texto tinha sido aprovado pela direcção e as condições de edição eram as seguintes: a editora comprometia-se a editar 500 exemplares, sendo que 200 eram por minha conta, ao preço de 11 euros por exemplar. Depois da respectiva destribuição pelas papelarias do país, receberia 20% pela venda de cada livro como direitos de autor.
Até aqui tudo bem. Mas quando me ponho a fazer contas de cabeça apercebo-me imediatamente que o negócio não interessa nem ao sr.abade. Vejamos: se sou obrigado a ficar com 200 exemplares à minha conta vou ter de pagar 2200 euros logo à partida, isto para não falar no trabalho suplementar de ter de os vender para recuperar o investimento, coisa que não estou interessado em fazer: vender livros.
Eu compro, não vendo livros.
Por outro lado, esse encaixe monetário pela editora vai fazer com que seja eu a financiar a edição à minha conta e não ela. Na prática, em vez de estar a vender o meu trabalho estou a comprá-lo, o que acho ridículo.
Mesmo que todos os livros fossem vendidos e eu recebesse a minha comissão dos restantes 300 isso daria quanto? A 2,20 euros cada um façam a conta. Uma ninharia.
"O mercado da arte em geral em Portugal é um pântano cheio de crocodilos. Se cais lá dentro és comido, e mesmo na margem não estás em segurança."
Vou continuar o jogo e vou pedir que me enviem o contrato. Receio ter ainda mais surpresas
dignas de nota, a nível de direitos de autor.
Que egocentrismo absurdo. Os gajos de Lisboa têm a mania que são espertos e o resto do país não passa de uma cambada de parolos. Ah-ah-ah.
Ri melhor quem ri no fim.
A verdade é que ainda não estou interessado em editar os meus trabalhos, e quando o fizer é à minha maneira: daqui a dez anos. No minímo três livros de uma vez.